segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Leva, que é teu!

Contratar jogador no meio do campeonato, quando os elencos já estão todos formados, é uma arte. Tem de ter cautela, garimpar com cuidado, pra acertar e apresentar pra galera aquele reforço que vai fazer a diferença. Sim, porque ninguém contrata jogador no meio da temporada só “pra somar”, pra “compor o elenco”. Se o cara foi chamado na 22ª rodada, não é pra ficar treinando três semanas separado do grupo, recuperando-se fisicamente, pra depois ir entrando aos poucos, no segundo tempo: é pra chegar, vestir a camisa e resolver. O Vitória, por exemplo, já achou o homem. O time começou o mês todo assanhado, todo cheio de mandinga, crente que aproveitaria os confrontos com Grêmio, Cruzeiro e Palmeiras para assumir a liderança do campeonato e afundar os concorrentes. Perdeu dos três e foi parar em sexto lugar. Mas a diretoria se mexeu: mandou chamar o argentino Trípodi, que estava no Santos.

Devem ter sido os números do atleta que chamaram a atenção da diretoria do rubro-negro baiano. O atacante argentino jogou quinze partidas pelo Santos e fez história na Vila, ganhando o coração do torcedor com nada mais nada menos do que um gol marcado.

Se não foram os números, foi, com certeza, a forma física, a hiperatividade do craque. Injustiçado pelo Cuca, que jamais compreendeu o valor de seu futebol, sua entrega em campo, o argentino foi afastado do grupo. Valente, passou as últimas semanas treinando sozinho não no CT, mas na praia, onde eventualmente beliscava uma porção de lambari frito e tomava ali uns birinights, pra repor as calorias. Foi, aliás, num momento de intensa atividade num quiosque, que atendeu o celular e recebeu a proposta do Vitória.

A diretoria santista, comovida com o interesse dos baianos e ao mesmo tempo apreensiva com a saída do gênio, viu-se na obrigação de suprir a perda com uma contratação de meio de temporada. Ela sabia que o torcedor ia exigir uma resposta e, antes mesmo que começasse a tradicional chuva de chinelo (essa maneira inimitável que o torcedor santista tem de fazer protesto), tratou de anunciar o reforço: o meio-campista Bida. E Bida, vejam só como é a vida, estava onde, minha gente? Sim: Bida estava no Vitória.

Há quem garanta que não foi assim que aconteceu. Que, na verdade, o Santos é que foi atrás do Bida primeiro e, depois, em retribuição, foi obrigado a ceder Trípodi para o Vitória. Que seja! Agora que já estão os dois de olho roxo, não importa mais saber quem agrediu primeiro. Quem sai fortalecida com essas contratações é a matemática, uma vez que mais uma vez se confirma a velha máxima segundo a qual “a ordem dos fatores não altera o produto”.

Essa troca entre equipes que disputam o mesmo campeonato só não foi a mais ousada transação do mercado futebolístico nacional dos últimos tempos porque o Corinthians, modernizado, renascido, lançando tendências, acertou no final de semana a vinda do lateral esquerdo Pablo, de 22 anos. O clube trabalhou nos bastidores, na surdina, como anda fazendo ultimamente, e apresentou o garoto do nada. Tão do nada, que até agora Andrés Sanchez ainda não conseguiu explicar onde afinal o menino estava jogando, embora já se saiba que brilhou no Treze da Paraíba e em “equipes do interior de São Paulo”. Mas até aí não há nada de mais. A inovação está no fato de que Pablo, recém-contratado, já foi emprestado pelo Corinthians ao Bragantino e disputará a Série B pela equipe de Bragança Paulista.

Tá aí! Não adianta ter inveja. É por isso que o Corinthians é grande e tem torcida em tudo quanto é lugar. Que outro time, em plena segundona, teria a grandeza de ir buscar um reforço para um adversário? Que sirva de exemplo para os times da Série A! Imagine como seria mais legal o Brasileirão, se agora o Palmeiras, por exemplo, contratasse, sei lá, Edcarlos, e emprestasse para o Grêmio. Aí, o Grêmio, entrando no clima, acertasse com o Zé Elias e o cedesse por três meses ao Cruzeiro. O Cruzeiro ia lá e, pra não ficar pra trás, contratava o Perdigão e despachava para o Flamengo. Devia virar lei: cada time ficaria obrigado a contratar um jogador no meio da temporada e inscrevê-lo em outra equipe. Menos no Vasco. O Vasco vive no seu próprio mundinho, logo ali no universo paralelo. Um clube capaz de trazer Márcio Careca nessa altura do campeonato, pra acalmar a torcida e escapar do rebaixamento, definitivamente não precisa de mais nada.

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