domingo, 21 de setembro de 2008

É TDB!

O botafoguense não é normal. Definitivamente. Experimente conversar com um! Você fala para ele: “Diga o nome de um atacante matador que vestiu a camisa alvinegra e deixou saudade”. Ele diz na lata: “Sinval”. Você acha que não escutou direito e decide passar para outra: “Que técnico tem a cara do Fogão e seria bem-vindo de volta ao clube”? Ele responde, já meio emocionado (botafoguense chora fácil): “Carlos Alberto Torres”. Então, desorientado, você coloca uma última questão: “Qual o título do Botafogo que marcou sua vida”? E ele responde, não contendo mais as lágrimas: “Ah, inesquecível mesmo foi a Conmebol de 1993”!

O botafoguense é assim. Por isso, nem causou muito espanto a notícia de que o time do Botafogo está concentrado e focado na conquista da Copa Sul-Americana! A Sul-Americana é hoje o que a Conmebol foi ontem, ou seja, nada. Mas, para o botafoguense, uma Conmebol mais uma Sul-Americana dá muito bem um bicampeonato continental, como não?! As recentes declarações do goleiro Castillo (cada vez mais com jeito de botafoguense) não deixam dúvida de que o time alvinegro vai lutar pela Sul-Americana com ainda mais paixão do que o Fluminense lutou pela Libertadores. “Essa competição é tudo de bom”, falou o uruguaio. Para o flamenguista, tudo de bom (TDB, como dizem por aí) é Juliana Paes. Para o vascaíno, é a Mulher Melancia. Para o fluminense, é Sabrina Sato. Para o botafoguense legítimo, é a Copa-Sul Americana... A vida é isso. A vida é sonho.

Animado com a perspectiva de mais uma expressiva conquista internacional, Carlos Augusto Montenegro, o cartola TDB, eterno ídolo da torcida, não resistiu e anunciou: vai ser candidato a presidente do clube. Montenegro é o presidente do Ibope há mais de trinta anos. Homem de números, com o bolso cheio de estatísticas. Já dirigiu o Fogão e foi campeão brasileiro em 95. O anúncio de sua candidatura, ao contrário do que aconteceria em qualquer outro clube do país, não despertou a ira da oposição nem desencadeou uma enxurrada de acusações gratuitas, denúncias e xingamentos pela imprensa. Nada. Nem uma palavra. Até porque, até agora, ninguém, além de Montenegro, parece interessado em ser presidente do Botafogo. “Senti que baixou um astral negativo de uma hora para outra”, explicou o cartola, justificando sua candidatura e salvando o clube da situação inusitada – mesmo tratando-se de Botafogo – de ficar sem presidente por falta de candidato ao cargo.

A primeira entrevista de Montenegro como candidato mostra que o homem continua lúcido. Não é do tipo que se deixa dominar pela paixão. Começa com esta delicada imagem poética: “O Botafogo é uma cachaça, um vício”. Em seguida, o dirigente, mostrando profundo conhecimento de estatística, fala uma verdade que estava aí no ar e ninguém ainda havia tido coragem de dizer: “O Botafogo enche muito mais estádio do que a Seleção Brasileira”. Quando a gente vê o presidente do Ibope dar esse tipo de declaração, começa a pensar se dá mesmo para levar a sério aquelas pesquisas que dizem que a torcida do São Paulo é a terceira do Brasil... E o homem vai além: “O nosso time de hoje é até melhor do que o do Brasil”. Como se isso fosse vantagem...

Uma coisa, contudo, preocupa o dirigente botafoguense: a falta de identificação do torcedor com o novo estádio do clube, o Engenhão. Acostumada a vibrar em Caio Martins, onde se fazia ouvir e até dava a impressão de ser numerosa, a torcida do Botafogo ainda se sente tão a vontade no estádio do Pan quanto o Gil dentro da grande área, ainda fica constrangida de atirar muletas, dentaduras e cabeças de boneca no gramado, entre outros incríveis objetos que, nas mãos de um botafoguense, podem virar arte conceitual de uma hora para outra. Mas Montenegro também já sabe o que fazer para deixar o Engenhão com a cara do Fogão: “O estádio precisa de um mastro bem grande com a bandeira do Botafogo, que possa ser visto de todo o Rio de Janeiro”. Mastro, Montenegro?! Quem gosta de mastro é são-paulino! O Engenhão precisa é de uma estátua com duas vezes o tamanho do Cristo Redentor, simbolizando uma grande conquista! Uma estátua em homenagem ao título da Conmebol 93, pronto! Uma estátua gigante, em pedra sabão, de Sinval, o matador! A torcida botafoguense vai passar a chamar o estádio de “Sinvalzão” e nunca mais vai ter saudade de Caio Martins, pode anotar!

Finalmente, Montenegro encerrou sua entrevista de maneira apoteótica. Botafoguense que se preze não consegue falar meia hora sem dizer pelo menos uma vez o nome de Túlio Maravilha, seguido sempre de odes e hinos de louvor. O dirigente quer o atacante de volta ao clube. Aproveitou para dizer que tem veterano que ainda dá no couro e tem veterano que só atrapalha, tipo... Edmundo! “O Vasco entra em campo com menos um”, provocou. Vê-se que Montenegro não tem acompanhado o Campeonato Brasileiro... O Vasco entra em campo com menos onze! O cartola encerrou garantindo à torcida que vai começar sua gestão com uma contratação bombástica, fora Túlio, que já é de casa: “O clube precisa de um atleta que venha para fazer a diferença. Um jogador do meio para frente. Um que faça gols, um que as crianças queiram entrar com ele em campo e as pessoas comprem camisas”. Em resumo, um tudo de bom! TDB! Num clube normal, ele estaria falando de Carlitos Tevez, Valdívia, Ronaldo Fenômeno. Mas Botafogo é Botafogo... A gente nunca sabe... Tá mais pra Sinval, hein! Sinval TDB! Sinval, o matador!

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