segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Alcatraz (ou Passaporte para a Confusão)

Feliz da vida com a transferência para o Manchester City e empolgado por enfrentar uma defesa tão bem postada como a chilena, Robinho aproveitou o final de semana nos Andes para fazer o que realmente gosta: falar mal do Real Madrid. Entre outras coisas, disse que preferia “vender pastéis no mercado” a continuar jogando pelo clube espanhol. Se Robinho tiver para pasteleiro o mesmo talento que tem para pipoqueiro, já tem uma nova carreira para começar, quando decidir fazer o que Ronaldinho Gaúcho decidiu há muito tempo – parar de jogar.

O Robinho só não pipoca contra o Chile porque ali pipoca estrangeira não tem vez. O Chile não precisa que venha um especialista de fora ensinar como é que se dá aquela pipocada gostosa! Apesar de que o maior pipoqueiro do time, El Mago Valdívia, nasceu na Venezuela... E a equipe é dirigida pelo argentino Marcelo Bielsa, grão-mestre pipoqueiro consagrado internacionalmente com comendas e distinções. Principalmente na Suécia e na Inglaterra, onde é cultuado desde a Copa de 2002 e ainda há de dar nome a bucólicas pracinhas. O Bielsa é, enfim, praticamente o Pelé da pipoca! É... Está certo... Craque venezuelano, técnico argentino... Essa pipoca chilena é meio paraguaia!

O fato é que, de vida nova, Robinho voltou a ser referência e a influenciar o futebol brasileiro. O desfecho surpreendente de sua novelinha, em que traiu o Real Madrid namorando o Chelsea e, depois, entregou-se facinho ao Manchester City, tem inspirado muita gente no Brasil. O Vasco (sempre o Vasco; é impressionante!), não satisfeito com o que já fez de bagunça este ano, surpreendeu o mundo, provou que pode ainda mais do que se imaginava e, sim, aprontou mais uma. O Vasco acertou com o Sharjah, dos – adivinhe – Emirados Árabes, a venda do atacante Jean. Até aí, tudo bem. Jean era reserva, quase não vinha sendo aproveitado, criou tumulto há pouco tempo ao tretar com o Edmundo, vivia resmungando, reclamando de tudo, com cara de coitado, e treinava com aquele entusiasmo de paciente desenganado pelos médicos. Mas, se os árabes acham que o clima ameno do deserto pode deixá-lo mais alegrinho que o Vampeta, tudo bem: querem que embrulhe ou vão levar assim mesmo? Manoel Fontes, o vice de futebol do clube, tratou logo de fechar negócio. Jean, aliviado, fez questão de zerar a conta, pra não levar mágoa na bagagem: despediu-se de todos os colegas, um por um. Fez as pazes com Edmundo, desejou boa sorte aos que ficam, deu bons conselhos aos mais jovens e até quis abraçar o técnico Tita. Pois não é que o treinador vascaíno, que nunca reparou muito em Jean quando ele estava lá esperando uma chancezinha de jogar, resolveu dar uma de marido traído na hora da despedida! Passou um sabão no jogador e exigiu sua permanência em São Januário. Com vôo marcado às pressas para domingo, Jean deixou Tita falando sozinho e foi cuidar da vida. Fez as malas e foi para o aeroporto. Quando estava na fila do check-in, notou que seu celular tocava e, ingênuo, tolinho, atendeu. Era Roberto Dinamite. Depois de dias procurando em meio a uma papelada embolorada dos diabos, o presidente do Vasco finalmente encontrou uma cópia do contrato do clube com Jean. Com multa rescisória estipulada em R$ 18 milhões, o que, evidentemente, nem Jean, nem os árabes, nem o próprio Dinamite, ninguém sabia até então. Dinamite bateu o pezinho e, tipo assim, ignorando completamente o acordo firmado pelo vice Manoel Fontes, cobrou dos árabes o dinheiro. Os árabes, levemente desconfiados de que o Brimo Dinamite tentava passá-los para trás, não aceitaram pagar mais nada. E Jean, bem orientado, bem assessorado, como sempre são os atletas brasileiros, ficou tão apatetado com a notícia, que perdeu o vôo e não saiu do Rio. Tita, vingado em sua honra de macho ferido, quer que o atacante se apresente imediatamente no clube e está ansioso para poder voltar a não o utilizar para nada. Jean, mais envergonhado do que torcedor da Portuguesa quando chega à puberdade, diz que não tem “nem cara para voltar”.

Quer saber o que é realmente o Vasco da Gama? Esqueça os jogos do time! Vá à locadora mais perto e leva pra casa Alcatraz – Fuga Impossível! Se não tiver, pegue Passaporte para a Confusão, que, ao contrário do que o nome sugere, não é sobre a emocionante história da transferência de Jean para o futebol árabe: é só mais uma daquelas comédias americanas que, normalmente, a gente vê sem saber por que, mas que, para um coração sensível e machucado como o do torcedor vascaíno, pode ser uma verdadeira lição de vida.

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