sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O recorde mundial que a TV chinesa não transmitiu

Muita gente acha que é censura e não gosta, mas o governo chinês, preocupado com a formação cultural do povo, tem como política não deixar passar qualquer porcaria na televisão. Esta semana a CCTV, emissora estatal, deu ao mundo uma mostra dessa seletividade e dos critérios que norteiam sua busca pela excelência na programação: passou ao vivo a semifinal do futebol masculino entre Nigéria e Bélgica e exibiu, só um dia depois, o VT de Brasil e Argentina.

Os chineses nem ligaram, claro, mas repórteres do mundo todo chiaram e exigiram uma explicação oficial da emissora. Pessoalmente, não vejo motivo para escândalo. A exibição de imagens do volante Mascherano cuspindo, chicletando e dando catarradas é, sim, má influência para as crianças. E nenhum canal de TV que busque qualidade vai passar ao vivo jogo de time treinado pelo Dunga.

De qualquer maneira, a explicação oficial foi exigida e a explicação oficial foi dada. Por Yu Liang, porta-voz da CCTV. Segundo o china, é uma questão de prioridades: “Tudo que é mais importante é transmitido pela televisão chinesa e podemos ver. Como o basquete ou a retirada e as desculpas do corredor Liu Xiang”. A gente percebe que os chinas realmente se abriram para o mundo e não vivem mais isolados como antigamente. Eles têm noção das coisas, sabem do que é que o povo gosta. O basquete, claro, é muito mais popular, muito mais importante que o futebol. E as desculpas do corredor Liu Xiang, então... Pô! Claro! Quem não quer ver isso aí? Eu tô superinteressado. Só me falta saber uma coisa: quem é Liu Xiang?

Yu Liang, com aquela carinha simpática que fazem os chineses quando se metem a engraçadinhos, aproveitou pra tirar um barato. Falou que, pessoalmente, não se interessaria em ver Brasil e Argentina: “Se fosse futebol feminino, sim. Gosto de ver”. Quando a gente tem a informação de que, no Brasil, a audiência do jogo feminino entre Brasil e Estados Unidos foi maior do que a do masculino entre Brasil e Argentina, começa a desconfiar de que a China vai mesmo dominar o mundo. Nossos torcedores já têm o mesmo gosto do Yu Liang.

Agora, se os chineses gostam de transmitir ao vivo perdedor dando desculpa, deviam ter passado em cadeia nacional a coletiva do Dunga após a derrota para a Argentina. O técnico brasileiro garantiu que essa geração olímpica ainda vai dar muitas alegrias aos torcedores. Vai, vai, sim, Dunga. Aos torcedores da Argentina principalmente! Aliás, é só pegar as escalações de outros times olímpicos brasileiros, que a gente encontra lá muitos nomes que não pararam de dar alegrias, como Fábio Bilica, Álvaro, Mozart e Warley.

O melhor momento da coletiva, no entanto, foi quando um repórter gringo perguntou ao Dunga aquilo que os repórteres brasileiros, mais amedontrados do que a seleção brasileira feminina de basquete, deveriam perguntar: “Seu time teve dois jogadores expulsos e sofreu três gols. Onde está o jogo bonito do Brasil”? Aí, Dunga, com o equilíbrio emocional que é próprio dos grandes líderes e a gentileza que caracteriza as palavras dos verdadeiros campeões, respondeu, crente que o gringo era britânico: “Seria maravilhoso se pudéssemos marcar gols em todos os jogos. Assim como seria maravilhoso se a Inglaterra tivesse ganhado mais Copas do Mundo, não só aquela que ganhou na década de 60, né”? Bem, o repórter, na verdade, era norte-americano. Dunga tem um senso de oportunidade inacreditável, né? Ele fala mal da Inglaterra, pra zoar um americano, dois dias antes de os Estados Unidos baterem o Brasil na final do futebol feminino. O Ricardo Teixeira está de parabéns por esse achado. O Dunga é a filosofia ofensiva do Parreira e a sensatez do Zagallo numa só pessoa.

Finalmente, a TV chinesa também bobeou ao não mostrar ao vivo a coleta de material para o antidoping de Ronaldinho Gaúcho. O meia levou mais de três horas para conseguir fazer o xixi. Os argentinos já longe, fazendo algazarra, Alexandre Pato elogiando a si mesmo e dizendo que sai de cabeça erguida, Dunga falando mal da Inglaterra pra repórter americano, e o Ronaldinho lá, sozinho, de cabeça abaixada, desesperado por terem exigido dele, na falta de uma jogada de habilidade ou de um golzinho, pelo menos algumas gotinhas de urina. Nenhum atleta sofreu tanto nas Olimpíadas como Ronaldinho na sala de coleta. Ele teve de buscar aquele algo a mais, aquela força interior, a raça que é sua grande característica, para conseguir encher o frasquinho. Calou a boca dos críticos que diziam que ele não estava se esforçando em Pequim. Pena que ninguém viu. A televisão chinesa, preocupada em mostrar qualquer coisa que tenha um chinês no meio, perdeu um daqueles momentos de superação no esporte que entram para a história e marcam uma geração. Ronaldinho Gaúcho lutando contra os limites do homem na prova de xixi individual é a imagem que vai faltar na retrospectiva dos Jogos de Pequim. Pouco importa o ouro no futebol. A urina mais demorada de todos os tempos foi um brasileiro que fez! Esse recorde é nosso!

2 comentários:

Anônimo disse...

Bima, a TV estatal aqui é a CCTV. De resto, irretocável o comentário. Quem disputa bronze com a Bélgica não tem nada que reclamar...

Abração

Cassiano disse...

Boa, Corazza! Já alterei aqui. Meu compromisso, você sabe, é com a verdade. Nada mais que a verdade. Aproveite e nos ensine, qualquer dia desses, a pronunciar o nome daquela cerveja que você toma aí, pra gente ir lá no Frangó exigir a importação do produto!

Grande abraço!