quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sai, coisa ruim!

No Rio Grande do Sul, foi uma festa só quando anunciaram que Daniel Carvalho e D’Alessandro eram jogadores do Internacional. No estilo das tradições gaúchas, os torcedores colorados saíram dançando pela cidade, homem beijando homem, bigode com bigode, como eles preferem lá. A imprensa local, uma das menos bairristas do país, como é sabido, apressou-se a especular que os dois novos contratados, ao se juntarem a Alex, Fernandão e Nilmar, permitiriam ao Inter finalmente jogar futebol e abandonar aquela retranca que nem o Barcelona conseguia furar. A chula e a chimarrita voltariam a ser dançadas nos estádios, com os homens sapateando, desmunhecando impunemente e atirando lencinhos ao alto, tal qual nos velhos tempos gloriosos de Valdomiro, Dadá Maravilha e Falcão.

Os gaúchos só se esqueceram de que, além de Daniel Carvalho e D’Alessandro, outros reforços chegaram ao Beira-Rio... Depois da esfuziante passagem de Róger pelo Grêmio – com um saldo positivo de sete gols de pênalti, três na cara do goleiro, vários piques desanimados de dois metros e possivelmente algumas mães solteiras –, chegam agora a Porto Alegre, saídos daquele mesmo time do Corinthians, Rosinei e Gustavo Nery.

Rosinei não vem para brincadeira. Ele sempre aparece "para compor o grupo", entrar no segundo tempo, coisa e tal, mas, mandingueiro de primeira, arruma logo um lugar no time titular, aproveitando a contusão de um e a má fase de outro. É mundialmente conhecido por fazer sempre o gol de honra, nas derrotas por 2 ou 3 a 1. Uma contribuição e tanto para o saldo de gols, aspecto importantíssimo a ser observado, uma vez que é muito comum um torneio ser decidido no saldo de gols.

Quanto a Gustavo Nery... Bem... O filme já passou em vários lugares. Ele chega todo tatuado, de camiseta regatinha, cabelo parafinado, estilo baby look. Beija a camisa na apresentação, beija o presidente do clube, beija repórteres e abraça geral. Na primeira entrevista, já fala em título e promete raça. As senhorinhas mais antigas sempre comentam: "Que rapaz bem simpático, bem apessoado!". Aí ele estréia marcando gol. É o delírio. Dalmo Pessoa e Juarez Soares já começam a falar que é jogador de Seleção. Nas partidas seguintes, o time vence, ele dá assistências, joga a camisa pra torcida, mostra alguma tatuagem nova. É o auge. Então, de repente, você começa a perceber que o resto do elenco anda meio cabisbaixo, com aquela cara de quem passa o dia inteiro escutando Joy Division. O treinador, antes disciplinador, tornou-se de uma hora para outra um Oswaldo de Oliveira: caladão, olhar perdido e a inconfundível cara de derrota. Aí você já sabe: o alto astral de Gustavo Nery, seu estilo de vida saudável, contagiou o grupo. Em poucos dias, não há mais treino coletivo que não termine em sopapo. Os mais sensíveis começam a ter crise de choro no vestiário. Quanto tudo parecia perdido (o campeonato, nessa altura, já foi faz tempo), você descobre que Gustavo Nery não aparece para treinar há três dias, que foi visto bebericando em Ibiza e recebeu proposta de algum clube que, envergonhado, ainda não teve coragem de assumir que está atrás dele.

Eu não sei se Gustavo Nery vai brilhar no começo como de costume, mas uma coisa é certa: a derrota para o Santos, ontem, no Beira-Rio, é sinal de que seu alto astral já chegou ao grupo do Inter.

Um comentário:

Rakal D'Addio disse...

O Nery é um futurista, um inovador. O primeiro lateral-esquerdo que não cruza, não vai a linha de fundo, não defende e, mesmo assim, não perde a titularidade.